Dormir e acordar com as janelas abertas, transitar pelo apartamento sem se preocupar com o vizinho espiando a rotina sempre foi realidade para os moradores do Plano Piloto.

Com o passar do tempo, no entanto, esse privilégio ficou restrito a quem mora nas asas Norte e Sul, e só nos prédios mais antigos. Para os moradores do Sudoeste, Águas Claras, Taguatinga e várias outras cidades do Distrito Federal, o plano urbanístico de Lúcio Costa, que previa uma distância mínima entre os blocos para preservar a privacidade, ficou só no papel. E não é só esse o problema. O material utilizado nas novas construções não consegue evitar que se ouça o vizinho caminhar no apartamento de cima ou mesmo quando um casal está discutindo a relação.

 

A realidade de grandes metrópoles, de abrir as janelas e “dar de cara” com o vizinho é mais comum do que se pode imaginar no Distrito Federal.

 

A advogada Adriana Burgos, 35 anos, mudou-se para Águas Clara há nove anos. Quando adquiriu o apartamento, no oitavo andar de um condomínio, não imaginava que teria tanta dor de cabeça. “Quando vim para cá, o meu prédio era o único, eu tinha vista para o parque, não me preocupava se tinha alguém me observando ou não. Agora, construiram prédios cercando todos os lados”, conta. Durante o dia, quando está trabalhando, esquece o tormento, mas à noite, basta acender a luz para lembrar que os vizinhos podem estar a observando. “O problema é exatamente quando acendemos a luz. Que aí ficamos totalmente à mercê do vizinho. Tenho umas três janelas que dão direto para a minha. É entrar no quarto e fechar janela e persiana, independentemente do calor”, diz.