Por: Reynier Omena Júnior, biólogo.
De acordo com o Serviço de Pesca e Vida Silvestre dos EUA, até 1 bilhão de aves são mortas anualmente por colisão com janelas, considerando todos os Estados e Municípios. Este é um número expressivo e as mortes não despertam a atenção do grande público, porque elas acontecem de forma velada e silenciosa. São espécies nativas e exóticas, com grande prejuízo à dispersão de sementes e à polinização, úteis à perpetuação de florestas e à agricultura.
A colisão pode machucar temporariamente as aves que se chocam, que caem e que se erguem parecendo estarem recuperadas, mas muitas vezes elas morrem posteriormente de hemorragia interna ou hematomas no cérebro pelo choque ou podem ser capturadas no chão por animais domésticos como gatos e cachorros.
Estudos comprovam que uma em cada duas colisões resulta em uma fatalidade. No Brasil, pouco se sabe sobre os dados de colisão de aves contra janelas. No entanto, de acordo com Miguel Marini e Clarissa Camargo da Universidade Nacional de Brasília, cerca de 500 aves trombam e mais de cem morrem anualmente nas colisões com as fachadas espelhadas da Procuradoria-Geral da República, em Brasília.
Durante o vôo, as aves não conseguem distinguir entre o que é real e o que é reflexo.
Prédios isolados refletem o céu e a vegetação, facilitando os choques. São três colisões a cada dois dias e uma morte a cada três ou quatro dias. Como a vida útil dos edifícios é grande, o número de mortes pode passar da casa dos milhões em longo prazo.
De acordo com Marini, esse número de mortes no prédio da Procuradoria Geral em Brasília não chega a ser preocupante para a maioria das espécies porque muitas são comuns em ambientes urbanos. Mas o prédio ficará ali por dezenas de anos e muitos outros com fachadas espelhadas estão sendo erguidos em Brasília.
De acordo com Von Matter, ornitólogo, autor de um artigo na Revista “Conexão Planeta”, os arranha-céus não são os maiores responsáveis pela morte de milhões de aves. Dados registram que 56% das colisões de pássaros contra superfícies de vidro em prédios com óbito ocorre em prédios de 4 a 11 andares de altura, 44% em residências com 1 a 3 andares e menos de 1% em prédios com mais de 12 andares de altura, de acordo com um estudo feito nos EUA.
Esse conjunto de prédios, ao longo do tempo, trará impactos significativos sobre a avifauna alada. No Brasil, o problema parece ser maior, considerando a sua rica e expressiva diversidade de aves, hoje com 1.919 espécies, segundo o Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos, praticamente o dobro da avifauna Americana com cerca de 800 espécies. Adicione-se a isto, a ausência de um estudo ou de ações governamentais que venham fazer frente às essa demanda, de acordo com o pesquisador Von Matter. De acordo com ele, possivelmente, o Brasil já esteja enfrentando uma epidemia silenciosa de colisões de aves em janelas e supõe que pelo menos o dobro das colisões que ocorrem nos EUA deva estar acontecendo no Brasil.
O que leva as aves se chocarem contra as janelas de vidro?
Estes dados revelam o alcance e a extensão do perigo a que está sujeita a avifauna silvestre, mas há uma pergunta que não quer calar: o que leva as aves se chocarem contra as janelas de vidro?
As aves, os pássaros vêem árvores, paisagens, o céu e as nuvens refletidas nas superfícies de vidro e voam em direção a elas. Ou vêem através do vidro vasos de plantas dentro de casa ou a paisagem do outro lado por meio de uma segunda janela e tentam transpô-la. Elas se chocam contra as vidraças e não contra as paredes de concreto.
Aves em pânico e em fuga para escapar de predadores são mais suscetíveis a se chocarem contra janelas de vidro e mesmo à noite, quando os reflexos são mínimos, janelas iluminadas podem ser desorientadoras para as aves migratórias fazendo-as colidir com arranha-céus, prédios de escritórios e outras janelas iluminadas. A colisão pode machucar temporariamente as aves que se chocam, que caem e que se erguem parecendo estarem recuperadas, mas muitas vezes elas morrem posteriormente por fraturas, hemorragia interna ou hematomas no cérebro pelo choque.
Estudos comprovam que uma em cada duas colisões resulta em uma fatalidade.
Como evitar e eliminar as colisões de pássaros contra janelas
As técnicas de prevenção abrangem desde barreiras físicas, uso de filmes, pinturas, películas adesivas, mudança no posicionamento das janelas, ou a combinação de várias ações. Veja a seguir o que fazer para evitar o morticínio dos pássaros causado pelas estruturas e cenários construídos pelo homem moderno.
- Aplicar insufilm na parte exterior das janelas para reduzir os reflexos do lado de fora delas. Isto permite que quem estiver dentro veja quem estiver fora;
- Instalar janelas foscas com superfícies menos reflexivas;
- Quando as janelas forem transparentes, manter as cortinas e persianas fechadas para reduzir a ilusão de que as aves podem voar por elas;
- Ao instalar janelas, posicione-as um pouco inclinadas para baixo. Assim a superfície exterior da janela refletirá o chão ao invés do céu e as árvores e não vai afetar a sua visão de dentro da casa;
- Colocar tiras de fitas verticais na parte exterior da vidraça. As tiras não devem ter mais que 10 cm de distanciamento de uma tira para a outra. Você pode também pintar estas linhas usando uma tinta que pode ser limpa com uma esponja, mas não é removida com a água da chuva;
- À noite, as janelas foscas ou sem barreiras artificiais, devem ser mantidas com as lâmpadas apagadas, para não atrair aves noturnas;
- Cobrir a janela pelo lado de fora com uma tela ou rede para que a reflexão não seja visível;
- Usar telas sobre a vidraça nas janelas exteriores. As telas quebram a reflexão, ajudam a amortecer o impacto e a reduzir as lesões se uma ave colidir contra a janela, fornecendo uma barreira física para as aves que voarem em direção a vidraça, mas não vai obstruir sua visão;
- Usar guarda-sóis externos ou toldos para minimizar a reflexão e transparência das janelas.
- Pelo lado de dentro, manter plantas e flores posicionadas longe das janelas, pois poderão ser vistas pelo lado exterior da janela de modo que as aves vejam nestas plantas fontes de abrigo e alimentação.
Películas adesivas para evitar colisão entre aves e janelas
Outras alternativas para minimizar e eliminar os impactos decorrentes das janelas transparentes ou com vidros espelhados, é a aplicação de adesivos impressos em vinil nelas, são resistentes e vão fazer com que as aves evitem se aproximar delas.
Clique neste link e conheça sobre esta tecnologia de adesivos que podem ser aplicados por dentro ou por fora das janelas. Dependendo da cor do vidro refletivo, a definição da cor das imagens do adesivo (se deve ser mais escura ou mais clara) será baseada em testes, para saber qual tem o melhor efeito visual para as aves. Tomando uma atitude em defesa das aves, você estará ajudando na proteção e conservação delas!
Gostaria de relatar uma colisão de ave em sua cidade e colaborar com a ciência?
Acesse a página do Instituto Passarinhar no Facebook e envie foto, localidade, data, horário e tipo de vidro ou estrutura onde ocorreu o acidente. Mantemos um projeto de monitoramento colaborativo de colisões em nível nacional, para quantificar os impactos em janelas no Brasil e buscar soluções inovadoras.
Currículo Lates: http://lattes.cnpq.br/0243604298813606
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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THE CORNELL LAB OF ORNITOLOGY. Keeping Birds Safe Around Windows. Acesso em 01 Dez 2013. Disponível em: http://www.allaboutbirds.org/Page.aspx?pid=1184
Texto reproduzido com autorização do autor:
Reynier Omena Júnior, biólogo. Trabalha com aves silvestres amazônicas há pelo menos 18 anos. Atualmente trabalha na elaboração de um projeto de Lei que visa a criar mecanismos que evitem o choque de aves contra vidros em nas áreas urbanizadas. Saiba mais em https://www.birding.com.br/